Por: Claudecir Bianco
Consultor
Começo este texto contando uma fábula, uma filosofia para a vida, criada por Robert Fisher, intitulada de ‘O Cavaleiro Preso na Armadura’.2
É um livro interessante que narra uma busca que vai acontecer na trilha da verdade, onde cavaleiro buscará por seu resgate próprio, acompanhe:
O cavaleiro, se considerava o mais corajoso do reino. Um homem sempre pronto para qualquer batalha, disposto a defender sua honra e ajudar quem fosse preciso.
Sua armadura, lustrosa e imponente, era a única imagem que todos enxergavam, inclusive sua mulher e filho. Ele era reconhecido por esta armadura. Ela refletia os raios do Sol, era bem cuidada e parecia ser sua ‘primeira pele’.
Ele lutava contra inimigos do reino que eram malvados, grosseiros e odiosos.
Matava dragões e resgatava donzelas formosas em apuros.
O Cavaleiro tinha uma esposa e um filho.
Ao ouvir dizer que poderia haver alguma batalha, imediatamente, parava com tudo que estava fazendo, vestia rapidamente sua armadura brilhante, montava em seu cavalo e partia.
Com o passar do tempo, o cavaleiro, não tirava mais a armadura. Ele queria estar pronto para qualquer situação.
O Cavaleiro tornou-se obstinado por sua atividade; para ele a única coisa que importava era seu trabalho, para poder manter o seu castelo e sua família sempre abastados.
E assim foi, por longos anos.
Ele esperava que um dia seu filho o substituísse, como o maior cavaleiro do reino.
Com o passar dos anos, e por ele nunca tirar a armadura, o filho não se lembrava mais da fisionomia do dele.
Tinha apenas uma vaga lembrança pelas fotografias antigas, ainda quando era criança.
O filho não demonstrava qualquer sentimento afetivo, e cada dia, se distanciava mais.
Sua esposa, já estava sem paciência em lidar com o cavaleiro e com esta situação.
Um determinado dia, ela o desafia:
‘Se ainda me amas, tira esta armadura para que eu veja você!’
O cavaleiro tentou argumentar, dizendo que não podia, pois este era seu trabalho… mas não teve jeito!
Decidiu tirar a armadura.
Tentou de todas as formas despir-se daquela roupa de ferro e aço, para provar seu amor para sua esposa, mas não conseguiu.
Sem alternativas, foi até o ferreiro.
Depois de várias manobras, até mesmo o ferreiro não obteve sucesso.
Agora, quem sempre ajudou os outros, precisava de ajuda.
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Ao longo do livro você se identificará com várias situações que farão refletir sua postura na vida.
O homem desta fábula acaba, sem querer, se distanciando das pessoas que ama e perdendo sua verdadeira identidade.
Quando percebe que não consegue mais se desvencilhar da armadura, parte em busca de seu ‘eu’ esquecido no tempo, perdido nas guerras e na frieza dos sentimentos, por te optado por outras prioridades.
Percorrendo a trilha da verdade, ele segue rumo ao autoconhecimento, buscando sua verdadeira face, há tempos escondida, e reencontrando o sentimento que havia guardado na armadura por toda a vida.
Durante a trajetória, o cavaleiro tem de passar por três castelos: o do Silêncio, do Conhecimento e por fim o Castelo da Vontade e da Ousadia.
Em cada um desses castelos ele vai refletindo cada vez mais sobre sua vida e permitindo que seus sentimentos fluam. À medida que vai se autoconhecendo e tornando-se mais afetuoso, sua armadura vai se desmanchando e ele vai percebendo sua humanidade e o risco que estava correndo em perder sua família.
Ao final do livro, o cavaleiro aprende uma valiosa lição: de que o bem maior que ele poderia ter não são os bens materiais, mas sim sua família, seus amigos, e o amor próprio.
Uma fábula atual, que fala diretamente a todos que se sentem presos aos compromissos e responsabilidades do mundo moderno, esquecendo aqueles que amam e deixando de lado seus verdadeiros desejos.
Algumas indagações são necessárias para esta reflexão:
Quais são suas atuais ‘armaduras’?
O que está ‘prendendo’ você ao longo da sua vida, que até agora, você não percebeu?
Ao longo de nossa caminhada vamos adquirindo conhecimento que nos ajuda constantemente a ‘evoluir’ na vida.
Os resultados que temos hoje, são resultados das nossas escolhas e decisões. Somos moldados por elas e pelo ambiente que escolhemos frequentar.
Nossa concepção de sociedade, nos pressiona para tomadas de decisões que podem interferir em nossa personalidade e na forma como enxergamos a vida presente e futura.
O ritmo das tarefas diárias, trabalho, estudos e família, requerem decisões harmoniosas para que conflitos sejam minimizados e mantenhamos controle sobre o stress.
Mas, este ‘malabarismo’ diário, por vezes nos tira do prumo e algum descontrole bagunça nossa serenidade.
A tentativa de controlar nossas agendas e ainda assim ‘permanecer’ saudáveis é um grande desafio para nossos dias.
Saber seu papel neste mundo, ter um propósito de vida, dar às suas horas, significados maiores do que apenas as somas dos segundos, será uma força motriz diferenciada.
Poder escolher uma alimentação equilibrada e adequada, potencializará sua performance exponencialmente, diariamente.
Manter uma rotina de atividades físicas adequadas para sua idade e tempo, vai fortalecer seu corpo, sua mente e sua alma de forma e significados expressivos.
Para não ficarmos ‘presos’ como o cavaleiro da fábula, busca-se o conhecimento da mente e do corpo, para que ambos trabalhem em sincronia.
Somos todos diferentes, e não existe uma ‘receita mágica’ que funcione para você, só porque teria funcionado para outra pessoa.
Para não ficarmos ‘presos’ com nossas atividades rotineiras, podemos buscar o conhecimento da nossa existência, percebendo nossa limitação temporal e aprendendo a identificar as prioridades para nossa vida.
Recente escrevi uma reflexão sobre ‘o peso das dietas’ que traz um entendimento que não devemos nos prender a dietas restritivas, pois isso agride significativamente nosso corpo e nossa mente.
Infelizmente, algumas pessoas passam muito tempo despreocupadas com questões saudáveis e, depois, se lançam na busca de resultados rápidos, pagando um preço muito alto, com risco graves para sua saúde e, o que é pior, retornam aos mesmos hábitos.
Pensando sobre isso por algum tempo, sendo praticante de atividades físicas por mais de 36 anos e atualmente com uma filosofia de vida vegana, criei o que chamo da Tríade da Vida Saudável.
Esta tríade foi estruturada em um programa de Coaching que é desenvolvido ao longo de 6 semanas, dentro da seguinte estrutura conceitual básica:
Identificar seu propósito de vida: Perceber você, como agente promotor de tomadas de decisões e escolhas, tanto as positivas quanto as negativas. Entender para o que mais você está vivo e atuante nesta terra. Implica num autoconhecimento, semelhante ao cavaleiro descrito na fábula.
Optar por uma alimentação saudável: Identificar os alimentos, suas composições, qualidades, benefícios etc. Implica em anotar o que come e desenvolver uma alimentação consciente, ter atenção na mastigação, sem distrações, aprender identificar quando está com fome ou apenas com desejo de comer.
Desenvolver a prática da atividade física: Neste quesito está a identificação de ações que seu corpo irá gastar mais ou menos calorias. Identificar atividades que tragam prazer na realização. Sair dos modismos e desenvolver o hábito constante de prática, independente de tempo, clima ou recursos financeiros.
Todos estes pontos, são desenvolvidos ao longo das 6 semanas com sessões específicas, para identificação dos cenários, dos recursos disponíveis e as aplicações das ferramentas de autoconhecimento, bem como na elaboração do plano exclusivo de atividade física.
Para algumas ações, outros profissionais farão parte do processo de atendimento nas áreas de Personal Trainer e Nutrição.
Como resultado, objetiva-se desenvolver a vivência prática da tríade da vida saudável como elemento intrínseco da pessoa, tornando-a fator chave de crescimento que irá proporcionar uma vida mais sábia e longeva.
Ao desenvolver esta prática (tríade) você não permitirá ficar preso nas armadilhas da vida, que muitas vezes chegam para nós, de forma simples, mas que, ao longo do tempo, vão nos aprisionando até ao ponto de perdermos nossa identidade e, em algumas vezes, as pessoas que amamos.
Cuide bem da sua mente, que ela cuidará bem do seu corpo!
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FISHER, Robert, (1922). O Cavaleiro Preso na Armadura: Uma fábula para quem busca a Trilha da Verdade. 13ª Ed. Rio de Janeiro: Record, 2010. 110 p. Tradução: Luiz Paulo Guanabara.