CRIANDO UM NEGÓCIO SOCIAL

Como iniciativas economicamente viáveis podem solucionar os grandes problemas da sociedade

Por: Claudecir Bianco

Consultor

Li o livro, Criando um Negócio Social, em 2011 e fiquei impressionado com os relatos do Profº Yunus e decidi compartilhar meus destaques.

Com certeza eles vão te ajudar a entender o significado mais amplo de Negócio Social, suas abrangências e possibilidades. As letras NS, na sequência, referem-se a Negócio Social.

A intenção é despertá-lo para a leitura completa do livro e, obter insights para seus projetos e até mesmo para iniciar e desenvolver um NS.

Juntos com Muhammad Yunus, podemos erradicar a pobreza e elevar os marginalizados economicamente a níveis melhores para que desenvolvam melhores qualidade de vida.

Recomendo a leitura e o estudo em grupos para discussões e aplicações práticas, principalmente para agentes do Terceiro Setor pautados pela prática social.

Por serem ‘pontos destacados’ da minha leitura, será interessante você ter o próprio livro para compreender o contexto de cada citação.

As ideias apresentadas, juntamente com a aplicação do Programa de Desenvolvimento Comunitário Integral – PDCI, podemos transformar comunidades integralmente.

Penso que este conteúdo poderia despertar empresários Cristãos (não os nominais) para uma prática semelhante.

Acompanhe, nas palavras do próprio autor, como se dá o início de uma transformação econômica e, qual é a visão dele para a transformação social que muitos buscam.

O material está organizado da seguinte forma: Citação da página onde está o destaque correspondente.

Prefácio

O projeto do Banco Gramenn começou com um pequeno empréstimo de 27 dólares em meados da década de 1970 e continuou crescendo até se tornar a organização global que é hoje!

Já é mais do que a hora de removermos a pobreza de uma vez por todas e transformá-las em relíquia do passado. Temos a tecnologia, temos recursos e temos vontade. Simplesmente precisamos aplicar tudo isso para alcançar nossa meta comum de erradicar a pobreza.

Introdução

Meu primeiro envolvimento com o problema da pobreza ocorreu quando eu era acadêmico; em seguida, fui levado por um episódio pessoal por acaso. Envolvi-me com a pobreza porque ela me cercava por todos os lados em Bangladesh.

Em particular, a fome generalizada de 1974 empurrou-me para fora do campus universitário e forçou-me a ser ativista social, além de professor.

Abri mão de minha posição acadêmica e fundei um banco – um banco para os pobres.

Na tentativa de descobrir o que fazer para ajudar, aprendi muitas coisas sobre Jobra (aldeia que fica bem ao lado da Chittagong University). Percebi que eu deveria estar com o povo angustiado desta aldeia e de alguma forma, encontrar algo que pudesse fazer por aquelas pessoas. Eu pretendia apenas ser útil a pelo menos uma pessoa por dia.

Deparei com a luta dos pobres que se empenhavam em conseguir quantias mínimas de dinheiro com as quais pudessem levar adiante seus esforços para se manter vivos.

Em particular, fiquei chocado ao encontrar uma mulher que tomara um empréstimo de apenas 5 takas (o equivalente a cerca de US$ 0,07) de um agiota e comerciante. Ela precisava daquela pequena quantia para comprar o bambu com o qual faria banquinho para vender. A taxa de juros de empréstimos como esses era muito alta – chegava a 10% por semana. Mas o pior que isso era a condição especial imposta: ela teria de vender toda a sua produção ao agiota pelo preço que ele determinasse. Aquele empréstimo de 5 takas praticamente a transformava numa escrava. Por mais que trabalhasse, ela e sua família nunca conseguiriam escapar da pobreza.

Para compreender o alcance daquela prática de agiotagem na aldeia, fiz uma lista das pessoas que deviam a agiotas. Quando ficou completa, tinha 42 nomes. Os empréstimos que aquelas pessoas haviam feito com os agiotas somavam 856 takas – algo como US$ 27 nas taxas de câmbio da época. Parecia absurdo que uma quantia tão pequena de dinheiro pudesse ter criado tanto miséria.

Para liberar aquelas 42 pessoas das garras dos agiotas, tirei o total do meu próprio bolso e dei a elas para que pagassem os empréstimos. O entusiasmo que se criou na aldeia com essa pequena ação tocou-me profundamente. E pensei: “Se um gesto tão pequeno deixa tanta gente tão feliz, por que não faço mais disso?” É o que tenho buscando desde então.

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1 – Um Negócio Social – NS, é dedicado a ajudar outras pessoas; é para o benefício dos outros e nada é para os proprietários, exceto o prazer de servir à humanidade.

2 – Num NS o objetivo do investidor é dar ajuda a outros sem obter qualquer ganho financeiro pessoal.

3 – Um NS tem a característica de ser autossustentável, ou seja, gerar renda suficiente para cobrir as próprias despesas. Uma parte do excedente econômico criado pelo NS é investida em sua expansão, enquanto outra parte é mantida como reserva para cobrir gastos inesperados. Assim, o NS é descrito como “uma empresa que não envolve perdas e não paga dividendos”, ele é inteiramente dedicado à realização de um OBJETIVO social.

4 – O NS é um empreendimento desinteressado cujo objetivo é acabar com um problema social. Neste tipo de negócio, a empresa gera lucro, mas ninguém se apropria dele. Como se dedica integralmente à causa social, a ideia de obtenção de lucros pessoais está ausente do negócio. O proprietário ($) pode recuperar, depois de certo tempo, apenas o montante investido.

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5 – Início do NS em Bangladesh;

6 – Parceiros: Danone – empresa francesa de laticínios – produção de iogurte com o propósito para reduzir a subnutrição entre as crianças; fortificado com micronutrientes: ferro, zinco, iodo etc. Se uma criança consome dois copos de iogurte por semana durante oito ou nove meses, recebe todos os micronutrientes necessários e torna-se uma criança saudável, ativa. Este produto é vendido aos pobres a um valor que qualquer um pode pagar.

p.13

6.1 Veolia – companhia francesa de tecnologias e serviços de água – fornece água potável às aldeias de Bangladesh;

Basf – empresa alemã – produziu mosquiteiros quimicamente tratados – fornece proteção contra a malária nas aldeias de Bangladesh;

Intel Corporation – tecnologia de informação e comunicação;

Adidas – produção de sapatos a preços acessíveis para pessoas com os mais baixos níveis de renda. Objetivo – ninguém deve andar sem sapatos. (intervenção de saúde);

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6.2 Otto GmbH – líder mundial de vendas por catálogo – estão planejando a criação de uma fábrica de roupas em Bangladesh – contratarão pessoas economicamente marginais, mães solteiras e deficientes;

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7 – Os cuidados com a saúde são outra área com alto potencial para o NS. Em Bangladesh, o Grameen Healthcare está desenvolvendo um protótipo de centros de gestão de saúde nas aldeias. Estes centros manterão as pessoas saudáveis porque se concentrarão na PREVENÇÃO e oferecerão serviços de diagnóstico e check-up, seguro de saúde, educação em práticas nutricionais e de saúde, e assim por diante. Pretende-se criar uma Faculdade de enfermagem para treinar jovens locais das próprias famílias proprietárias do Grameen Healthcare para atuarem nestes centros de gestão de saúde.

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8 – O mundo atual dispõe de tecnologias incrivelmente poderosas. Elas vêm aumentando com muita rapidez, tornando-se mais potentes a cada dia. Praticamente toda esta tecnologia está sob o controle de empresas com fins lucrativos que detêm sua propriedade. O único uso que dão a essas tecnologias é fazê-las produzir mais dinheiro, pois esse é o mandamento que recebem se seus acionistas.

No entanto, vista de uma perspectiva mais ampla, a tecnologia é apenas um tipo de veículo. Pode ser direcionada para qualquer destino. Como os proprietários atuais da tecnologia querem ser conduzidos aos mais altos píncaros do lucro, é para lá que a tecnologia os leva. Se alguém decidir usar a tecnologia para acabar com a pobreza, ela o levará nessa direção. Se outro proprietário quiser usá-la para acabar com as doenças, a tecnologia irá até lá. A escolha é nossa. O único problema é que o atual marco de referência teórico dentro do qual opera o capitalismo não permite essa escolha. Mas a inclusão do NS nesse marco cria, justamente, a possibilidade de escolher.

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9 – Usar a tecnologia para resolver problemas sociais não vai reduzir sua eficácia para produzir dinheiro, mas, sim, aperfeiçoá-la. Os proprietários de negócios sociais podem direcionar o poder da tecnologia para resolver a crescente lista de problemas sociais e econômicos e obter resultados rápidos. E, nesse processo, gerarão mais ideias tecnológicas a serem desenvolvidas por futuras gerações de cientistas e engenheiros. O mundo dos NSs irá beneficiar não só os pobres, mas toda a humanidade. Uma vez que o conceito se torne amplamente conhecido, as pessoas CRIATIVAS sugeriram desenhos atrativos para esses tipos de negócios. Os jovens desenvolverão planos empresariais que utilizarão o NS para enfrentar os mais difíceis problemas da sociedade. As boas ideias, é claro, terão de ser financiadas. Sinto-me feliz em dizer que já existem iniciativas na Europa e no Japão para criar fundos de NS que oferecerão capital de risco e empréstimos a fim de apoiar esses negócios.

10 – Esses fundos podem incentivar os cidadãos e as empresas a criarem NSs destinados a resolver problemas específicos, como desemprego, saúde, saneamento, poluição, velhice, drogas, criminalidade, necessidades de certos grupos desfavorecidos e assim por diante.

11 – Em algum momento futuro, será necessário criar um mercado de ações específico para facilitar o investimento em NSs. Somente negócios sociais serão listados nesse mercado de ações sociais, e os investidores saberão, desde o início, que nunca receberão dividendo algum. Sua motivação consistirá em desfrutar o orgulho e o prazer de ajudar a resolver difíceis problemas sociais.

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12 – O negócio social dá a todas as pessoas a oportunidade de participar da criação do tipo de mundo que todos queremos ver. Graças aos conceitos de NS, os cidadãos não têm de deixar todos os problemas nas mãos do governo (e, depois, passar a vida criticando o governo por não resolvê-los). Agora, as pessoas dispõem de um espaço completamente novo no qual podem mobilizar sua criatividade e seus talentos para resolver os problemas de nossa época.

13 – Ao verem a eficácia do NS, os governos podem decidir criar os próprios NSs, fazer parcerias com NSs administrados pelos cidadãos e incorporar as lições a fim de melhorar a eficácia de seus próprios programas.

p.19

14 – O primeiro componente desse novo marco deve ser a incorporação do NS como parte integrante da estrutura econômica.

15 – Em apenas poucos e curtos anos, o NS passou de uma mera ideia a uma realidade viva e em rápido crescimento. Já está produzindo melhoria na vida de muitas pessoas e está prestes a explodir como uma das tendências sociais e econômicas mais importantes do mundo.

p.20

16 – No mundo dos NSs, US$ 1 é US$ 1 e continua a ser sempre US$ 1. Se alguém investir US$ 1 mil num NS, receberá de volta US$ 1 mil, nem um centavo a mais. Somos rigorosos quanto a isso porque queremos deixar bem claro que a noção de vantagem financeira pessoal não tem lugar no mundo do NS.

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17 – Os Sete Princípios do NS:

  1. O Objetivo do NS é a superação da pobreza ou de um ou mais problemas em áreas como educação, saúde, acesso à tecnologia, meio ambiente etc., que ameaçam as pessoas e a sociedade – e não a maximização dos lucros;
  2. A empresa alcançará a sustentabilidade econômica e financeira;
  3. Os investidores recebem de volta apenas o montante investido. Não se paga nenhum dividendo além do retorno do investimento inicial;
  4. Quando o montante do investimento é recuperado, o lucro fica com a empresa para cobrir expansões e melhorias;
  5. A empresa será ambientalmente consciente;
  6. A força de trabalho recebe salários de mercado e desfruta condições de trabalho melhores que as usuais;
  7. Faça-o com alegria!

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18 – O programa com o qual o Grameen Bank torna possível que mendigos recorram a minúsculos empréstimos e se transformem em proprietários de pequenas empresas. Esse programa tem demonstrado que até os mais pobres dos pobres – pessoas sem quaisquer habilidades ou recursos aparentes – podem prover seu próprio sustento quando conseguem acesso às ferramentas de que necessitam.

19 – Programas executados por outras organizações têm alcançado “milagres” semelhantes com outras categorias de seres humanos que, por vezes, são descartados como casos perdidos: os dependentes de drogas, os fisicamente incapacitados, os mentalmente doentes. Não saltemos para a conclusão de que as pessoas só podem ser ajudadas com esmolas. Em vez disso, tentemos usar nossa criatividade para liberar o potencial oculto que quase todo mundo recebeu de Deus.

20 – Um tipo de organização que poderia ser confundida com um NS é a cooperativa. Uma cooperativa é propriedade de seus membros. Ela opera para obter lucro e beneficiar os membros-acionistas. Quando o movimento cooperativista foi criado por socialistas como Robert Owen, no início do século XIX, tinha claros objetivos sociais: aumentar o poder dos pobres, incentivar a autossuficiência e promover o desenvolvimento econômico.

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21 – No entanto, a forma como as cooperativas são operadas as torna muito semelhantes a empresas comuns voltadas para maximização do lucro. Não há nada de errado com isso, apenas não é considerada com NS.

22 – Uma cooperativa poderia ser um NS? Sim, se os membros proprietários forem pessoas pobres. Nesse caso, qualquer lucro gerado pela cooperativa iria para apoiar os pobres e ajudá-los a escapar da pobreza.

23 – Marketing Social, não tem nada a ver com o conceito de NS.

p.27

24 – Um NS está diretamente dedicado a mudar a situação econômica e social dos pobres ou criar alguma melhora social no mundo.

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25 – Um NS destina-se exclusivamente a fornecer benefícios sociais. Não se pensa, de forma alguma, em gerar lucros para nenhum investidor.

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26 – Um NS deve ser pelo menos tão bem gerido quanto qualquer negócio voltado para a maximização do lucro.

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27 – Seja flexível, sem nunca perder de vista seu objetivo central. Não tenha medo de ajustar seu plano de negócios quando as circunstâncias o exigirem. Mas, para evitar que você se torne puramente reativo, pulando de um programa a outro, lembre-se sempre, em primeiro lugar, da meta central para a qual criou seu NS.

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28 – Mergulhe na cultura das pessoas às quais pretende servir.

29 – Use a ajuda de aliados onde quer que possa encontrá-los.

p.67

30 – Os seres humanos têm o desejo natural de ajudar uns aos outros. É uma força motivadora tão poderosa quanto o desejo de lucro. O NS libera esse desejo de fazer o bem e o atende. Portanto, aqueles que estão construindo NSs não devem se surpreender quando deparam com pessoas em lugares improváveis que desejam ajudar – nem devem se intimidar quando se trata de aceitar o apoio que lhes é oferecido.

31 – Tire proveito de diferentes oportunidades em diferentes mercados.

32 – No Grameen Bank, nossa experiência exclusiva é com mulheres pobres das áreas rurais. Na verdade, nos termos de nosso estatuto, o banco só está autorizado a funcionar na zona rural e não nas cidades. Na prática, porém, a Grameen Danone descobriu que a melhor abordagem seria atacar os dois mercados simultaneamente – mas não da mesma forma. Na cidade, pode vender mais iogurte a um preço ligeiramente superior (embora ainda aceitável para os pobres urbanos), aumentando as vendas e o volume da produção, ao mesmo tempo em que gerar lucros para subsidiar o mercado rural, que tem menos recursos.

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33 – Questione seus pressupostos – você pode descobrir que as circunstâncias mudaram ou que suas crenças iniciais estavam erradas, e isso poderá abrir novas oportunidades com as quais nunca havia sonhado.

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34 – Dinheiro-semente de um fundo de NS – trata-se de um fundo de investimento lançado pelo Grupo Danone do qual vieram das verbas iniciais usadas para criar a Grameen Danone.

35 – Todo o dinheiro investido pelo Grupo “Comunidades Danone” vem de acionistas e empregados da Danone que escolheram aplicar no Fundo parte da renda advinda de seu trabalho. Esses investidores sabiam que não receberiam uma remuneração de mercado sobre seu dinheiro. Quando o fundo foi criando, os investidores foram informados de que receberiam de volta o dinheiro investido, mas sem juros, dividendos nem ganhos de capital – apenas um retorno nominal de 1%. Além disso, 10% do dinheiro do fundo seria investido em NSs que não dariam lucro algum. Ainda assim, escolheram contribuir para o “Comunidades Danone”, em vez de outro fundo de investimento mais lucrativo, por causa da satisfação pessoal de saber que seu dinheiro seria usado para criar empresas que beneficiariam a humanidade.

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36 – O desafio inicial é desenvolver um modelo que funcione, testá-lo, refiná-lo e ajustá-lo às necessidades quando as condições mudarem. Então, quando ficar comprovado que o modelo é eficaz, será possível estendê-lo a uma área após outra. Em cada etapa do processo, é preciso monitorar de perto os resultados e estar preparado para fazer as mudanças necessárias, já que os métodos que funcionam num lugar ou em determinado momento poderão ter que ser adaptados a outras circunstâncias. Os desafios são muito gratificantes, e também infinitamente fascinantes. Embora, em sua breve história, a Grameen Danone tenha tido mais que o suficiente de sua quota de altos e baixos, a experiência deixou-me ainda mais convencido daquilo em que já acreditava: do poder potencialmente transformador do NS, não apenas em Bangladesh, mas em todo o mundo.

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37 – Quando você pensa em criar um NS, não começa procurando algo que irá gerar grandes lucros. Em vez disso, escolhe um problema social que pretende resolver e, então procura uma solução de negócio para ele.

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38 – O lucro é importante apenas como condição necessária, não como objetivo final. Você não está tentando encontrar a combinação mais rentável entre uma demanda de mercado e suas capacidades. O pensamento inicial vem de um lugar totalmente diferente: seu instinto humano de compaixão. Você pode ver algo ou ouvir falar de privações que as pessoas sofrem e decidir mudar a situação – uma resposta muito natural diante da dor dos outros. Então, você começa a procurar uma solução. Se abordar o projeto sob a perspectiva do NS, não só garantirá que seus esforços sejam duradouros, porque serão economicamente sustentáveis, cobrindo seus custos, como sua ajuda também contribuirá para a elevação do sentimento de dignidade e da autoestima daqueles que passarem a se sentir como partes vitais do sistema econômico global.

39 – Para começar um NS, primeiro identifique uma necessidade e combine-a com suas capacidades e talentos. Olhe para o mundo a seu redor e pergunte-se o que lhe é incômodo. O que você realmente quer mudar? Identifique a raiz do problema – qual a necessidade crucial que precisa ser atendida? Seja específico e cave fundo, em vez de apenas olhar a superfície.

40 – Use sua criatividade – Hoje temos sorte porque qualquer pequena criatividade pode ser ampliada e transformada numa grande criatividade pelo poder da tecnologia. Amanhã, tecnologias ainda mais poderosas estarão disponíveis. Coisas nas quais você não pode acreditar hoje acontecerão amanhã. Como usar essas tecnologias para resolver problemas sociais é o grande desafio – e a grande oportunidade – do negócio social.

41 – Há muitos problemas à espera de solução: pobreza, fome, doenças, cuidados de saúde, desemprego, crianças abandonadas, drogas, habitação, poluição, meio ambiente e assim por diante. Olhe para seu próprio bairro e veja quais os problemas prementes à sua volta. Faça uma lista dos temas gerais nos quais se encaixam as questões que você quer explorar em maior profundidade. Em cada tema geral, veja o que especificamente poderia ser transformado num NS e comece a trabalhar o item. Construa um plano de negócios em torno dele, coletando informações sobre os vários aspectos do negócio. O problema certo a escolher é aquele com o qual você pode lidar com facilidade. Não vá atrás de um negócio altamente ambicioso, nem do problema mais importante que você possa imaginar quando estiver projetando seu primeiro empreendimento. Em vez disso, busque algo com o qual possa aprender. Você pode se envolver com muitos NSs no futuro. Mas, por ora, está apenas aprendendo o básico a respeito da criação e gestão de um.

42 – Comece de onde você está, fazendo uso de qualquer competência, recursos e outras vantagens que já tenha. E onde houver um hiato entre o problema que pretende abordar e os recursos de que dispõe, use sua CRIATIVIDADE para estabelecer a conexão.

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43 – Um dos princípios básicos que nos esforçamos para manter é “Faça com alegria!” Não se esqueça deste lema. Vivencie-o todos os dias;

44 – Mantenha as coisas simples. Todo mundo precisa de alimentos, renda, cuidados de saúde, habitação, água, serviços financeiros, eletricidade, saneamento, tecnologias da informação e assim por diante. Se você pode prover qualquer coisa relacionada a essas necessidades, mesmo em pequena medida, vá em frente e faça-o. E se houver pessoas que possam tornar mais fácil o empreendimento, peça sua ajuda.

45 – Não espere que seu primeiro projeto de NS seja um retumbante sucesso. Em geral, as primeiras tentativas acabam em fracasso. Mas cada fracasso representa um passo no caminho do sucesso final.

46 – De um objetivo grandioso a uma meta específica – Não fique tão preso a sonhos grandiosos a ponto de negligenciar oportunidades de começar a fazer o bem imediatamente. Em vez disso, encontre maneiras de traduzir esses grandes sonhos em metas específicas concretas.

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47 – Dicas para criação de um NS:

– Empregar (ou arrumar emprego para) pessoas pobres;

– Fornecer microcréditos às pessoas pobres para que criem seus próprios trabalhos através de auto empregos;

– Cuidados com a saúde – não tente resolver o problema do Sistema de Saúde; divida o problema em partes manejáveis. Pegue um pedaço e construa um NS independente a partir dele.

48 – O acesso à água tratada é um problema de saúde – então, estamos trabalhando com a Veolia, criamos um NS para fazer face a ele. A nutrição das crianças pobres das aldeias é uma questão de saúde – então estabelecemos parceria com a Danone para abordá-la por meio de um NS. A falta de calçados torna milhões de pessoas em Bangladesh suscetíveis a doenças espalhadas por parasitas – por isso, estamos colaborando com a Adidas num plano para criar um NS que vai oferecer sapatos pelo menor preço possível. Cirurgias de cataratas para os mais pobres, a preços acessíveis, são uma questão de saúde – assim, lançamos dois hospitais que funcionam como NS, especializados em oftalmologia e, particularmente, em operações de catarata. O problema global de cuidados de saúde é muito grande para que possa ser enfrentado todo de uma vez. Por isso, nós o decompusemos em pedaços menores e estamos abordando cada um separadamente.

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49 – Cada pedacinho do problema de cuidados de saúde que estamos abordando por meio de um NS específico começa a contribuir para a solução global dos problemas de saúde de Bangladesh como um todo. Melhor nutrição para as crianças e água tratada nas aldeias reduzirão a incidência de doenças evitáveis, diminuindo a pressão sobre hospitais e clínicas. Sapatos a preços acessíveis para a população rural irão protegê-la de doenças parasitárias. A abertura de faculdades de enfermagem criará um fluxo de profissionais treinados que poderão levar melhores cuidados de saúde a milhões de pessoas no país e também produzirá rendimentos que irão reduzir a pobreza e, consequentemente, melhorar o estado de saúde de muitas pessoas mais. À medida que adicionarmos outras pedras ao quebra-cabeça, o quadro geral continuará a melhorar. Uma espiral descendente está sendo transformada numa ascendente – não por meio da criação de um maciço “grande plano” para consertar todo o sistema de saúde, mas melhorando um pedaço de cada vez.

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50 – Agentes de saúde que visitem os domicílios são urgentemente necessários para ajudar pessoas idosas, pessoas com doenças crônicas e aquelas cujo estado não lhes permite sair de casa – e não há razão alguma para que esses serviços não possam ser fornecidos por um NS. O conhecimento de práticas sexuais seguras pode desempenhar importante papel para impedir a disseminação da AIDS e de outras doenças sexualmente transmissíveis – por que não poderia cada bairro ter uma clínica que funcionasse como um NS e proporcionasse aos casais jovens a orientação e o treinamento culturalmente apropriado sobre como se proteger de tais doenças?

51 – Comece com uma paixão pessoal – Com CRIATIVIDADE, toda paixão pessoal pode ser transformada em um veículo para fazer do mundo um lugar melhor.

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52 – Suponha que você esteja envolvido no mundo da cultura – artes, literatura, música, dança ou teatro. Existe alguma maneira de usar seus talentos para criar um poderoso NS?

53 – Nos primeiros anos do Grameen Bank, poderosas normas culturais vigentes em Bangladesh dificultavam nossos esforços para atrair novas mutuarias. Muitas mulheres nas aldeias nunca haviam tocado em dinheiro; de fato, muitas tinham receio de entrar num mundo que viam como alçada exclusiva dos homens. Pelo fato de a maioria não ser alfabetizada e viver afastada de suas comunidades, muitas hesitavam em assumir os desafios que o microcrédito representava. Com o tempo, resolvemos esses problemas criando uma cultura alternativa para as mulheres das aldeias. Ensinamos milhares delas a ler e escrever, começando com seus nomes – uma experiência que lhes proporcionou uma incrível experiência de contatar e aumentar seu poder pessoal. Milhares de outras descobriram a força de uma comunidade partilhada com outras mutuarias do Grameen que se apoiavam mutuamente. Elas aprenderam a desfrutar a ida às agências do Grameen Bank para reuniões semanais durante as quais cantavam, participavam de exercícios simples e partilhavam histórias sobre suas famílias e as pequenas empresas que haviam criado.

54 – Não foi fácil criar essa mudança cultural. As pessoas diziam que estávamos destruindo sua cultura; que as mulheres precisavam ser mantidas em casa e que não deveriam ter dinheiro nem lidar com ele. Eu dizia: “Vocês podem continuar com sua cultura – eu estou criando uma contracultura”.

55 – Desde então, tenho forte o sentimento de que a cultura é algo inútil se não for constantemente desafiada por uma contracultura. As pessoas criam cultura; a cultura cria pessoas. É uma via de mão dupla. Quando as pessoas se escondem atrás de uma cultura, você pode saber que é uma cultura morta; isso é bom para um museu, mas não para a sociedade humana.

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56 – Um exemplo simples: por que não se poderia transformar a reciclagem de resíduos num NS muito interessante? – Daca, capital de Bangladesh, parece com muitas das cidades que estão crescendo rapidamente no mundo em desenvolvimento – atormentada por condições insalubres causadas pelo afluxo de milhões de pessoas pobres vindas do campo, que vivem em casas sem sistema adequados de esgoto ou coleta de lixo. No entanto, esse é um problema completamente administrável – e que presta a um belo NS. Afinal, o lixo é uma mercadoria valiosa. Pode ser convertido em eletricidade, adubos, biocombustível para cozinhar e aquecer, gás para veículos – há muitas possibilidades.

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57 – Construindo um NS em torno de pessoas – procure um grupo de pessoas que precisam de ajuda e, então, descubra como pode ajudá-las. Veja alguns exemplos de pessoas que precisam de ajuda: idosos, deficientes, bebês e crianças, mães solteiras, doentes mentais, ex-detentos, desabrigados ou sem-teto, desempregados, dependentes químicos ou aqueles que não dispõe de cuidados de saúde. Muitas vezes, é possível desenvolver uma grande ideia de NS a partir da identificação dos benefícios que você quer alcançar. O objetivo é encontrar um produto ou criar um serviço que dê a seus clientes o sentimento de autoestima e aumento do poder pessoal. Tente lhes oferecer algo que não apenas consumam, mas que lhes dê a chance de ganhar mais ou de economizar mais do que o valor que gastam com seu produto. Você poderia trabalhar com crédito, por exemplo, o que permitiria a seus clientes criar seus próprios negócios, aumentar a renda e ter a chance de alcançar a independência financeira. O produto também poderia estar relacionado à educação ou à informação, para permitir aos clientes criar mais valor por meio de suas atividades econômicas. Poderia estar relacionado a cuidados com a saúde, capacitando-os a trabalhar mais produtivamente.

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58 – Examine soluções inovadoras para diferentes problemas sociais e se pergunte: “Existe alguma forma de alterar este sistema e adaptá-lo para resolver o problema que estou estudando?”

59 – “Como podemos montar um pequeno piloto da nossa ideia e começar a tocá-la imediatamente? Será que existem organizações ou membros da comunidade dos quais possamos nos aproximar de imediato para que nos ajudem a começar numa escala bem pequena?”

60 – Já contei como comecei a atuar no microcrédito com apenas US$ 27 que estavam na minha carteira. De forma semelhante, Dhruv Lakra, em Bombaim, na Índia, começou a testar sua ideia de negócio para um serviço de entregas em 2008, com trezentos dólares economizados de uma bolsa de estudos que recebia da Universidade de Oxford. Ele usou o dinheiro para contratar dois jovens com deficiência auditiva que estudavam em escolas locais. Então, falou com alguns amigos de sua própria rede de contatos e perguntou se teriam algo que pudessem ser entregues por seu novo serviço de correio. Algumas pessoas concordaram em contratar a microempresa de Lakra. E, com isso, ele deu início à construção de um negócio que emprega pessoas deficientes de famílias empobrecidas. Hoje, a Mirakle emprega 35 pessoas, todas surdas, que entregam pacotes silenciosamente, mas com grande eficiência, em toda a cidade.

p.100

61 – Atraindo talentos: Será que o desejo de impactar o mundo é tão forte quanto o desejo de ganhar dinheiro? Essa é a verdadeira questão. Muitas vezes, argumento que causar impacto na vida das pessoas é, em todos os aspectos, tão inspirador e gratificante quanto ganhar dinheiro, ou até mais. Experimente para ver. Você pode ficar fascinado com sua capacidade de mudar o mundo para melhor. Vai querer fazer sempre mais, e mais rapidamente. Vai ser acordado durante a noite, sonhando com as coisas incríveis que quer tentar assim que recomeçar o trabalho na manhã seguinte. O empreendedor de NS é, muitas vezes, tão obcecado com o sucesso quanto o empresário movido pelo lucro. A única diferença reside na forma como “sucesso” é definido.

p.121

62 – O primeiro e mais importante passo para se lançar um NS é ter uma ideia. Normalmente, a ideia crescerá a partir da observação de um problema social – algo de errado que esteja causando sofrimento humano em sua comunidade ou talvez em outro lugar do mundo. A reação natural é querer resolver o problema, aliviar o sofrimento e garantir que ele nunca mais ocorra. É aqui que entram sua CRIATIVIDADE e engenhosidade. Será que você pode inventar uma solução inteligente para o problema – uma que seja autossustentável, que aumente o senso de valor e poder dos indivíduos e prometa uma cura permanente, em vez de fornecer apenas um curativo temporário? Se você acha que tem esse tipo de ideia – ou mesmo que tem apenas o germe de uma ideia que ainda requeira mais desenvolvimento e refinamento -, talvez esteja pronto para mergulhar no mundo do NS.

p.122

62 – Um passo importante no processo de buscar financiamento é a criação de um plano de negócio que irá ajudá-lo a recrutar uma rede de investidores.

p.142

63 – A meta do NS é resolver os problemas do mundo real e ajudar os seres humanos a ter uma vida melhor, mais satisfatória.

p.144

64 – Já está claro, há algum tempo, que a água estará no centro das questões de sustentabilidade em todo o planeta nas décadas vindouras. Hoje, cerca de 20% dos habitantes do mundo têm acesso inadequado a água limpa para beber e cozinhar. Os especialistas dizem que cerca de 2 milhões de crianças morrem a cada ano devido a doenças relacionadas com a água, que vão de diarreia grave à malária e cólera. E antecipa-se que esses problemas deverão piorar. Graças, em parte, ao aquecimento global, muitos cientistas preveem que, por volta de 2025, metade da população poderá sofrer com a escassez de água.

p.145

65 – Muitas abordagens têm sido testadas e consideradas úteis em contextos especiais. Uma solução é subsidiar o serviço para as áreas ricas. Essa é a abordagem de subsídio cruzado usada pelo Grameen Healthcare quando cobra taxas diferentes para operações realizadas nos hospitais oftalmológicos em função da capacidade de pagamento do paciente.

p.151

66 – Em vez de passar meses estudando os aspectos econômicos do projeto e desenhando a planta, decidimos encontrar rapidamente um local para comprar a terra a começar a trabalhar de imediato, aprendendo à medida que avançávamos. Essa abordagem de aprender fazendo só foi possível porque o projeto inicial tem um tamanho modesto, exigindo apenas um pequeno investimento. Em vez de gastar milhões de euros em instalações de grande porte e correr o risco de perder todo o investimento, decidimos começar numa escala pequena e aprender durante o voo.

p.156

67 – Minha regra é muito clara: mantenha sempre em mente o objetivo, mas ajuste seus métodos conforme o exigirem as circunstâncias e os novos aprendizados.

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Yunus, Muhammad. Criando um Negócio Social – Como iniciativas economicamente viáveis podem solucionar os grandes problemas da sociedade. Editora: Elsevier, Rio de Janeiro, 2010.

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